Nós, nutricionistas, somos treinados para sermos prescritores, para tratarmos seres humanos como se fossem apenas corpos a serem moldados, conferindo o peso, aferindo medidas milimétricas com fita métrica e o (fatídico) adipômetro, calculando nos mínimos detalhes quantidades “adequadas” de macro e micronutrientes e, claro, nunca esquecendo que não podemos extrapolar as calorias que o indivíduo (ou seria a máquina?) pode consumir no dia Passamos muito tempo da faculdade fazendo regras de 3 com uma calculadora sempre a mão. Socamos um monte de salsinha no feijão pra fechar o ferro, colocamos gergelim na salada pra fechar o cálcio e assim por diante, ignorando a sabedoria do nosso corpo, ignorando que comida é muito mais do que nutrientes Comida é cultura, é historia, é afeto, é carinho, é união...
Lembro-me que no segundo semestre da faculdade, quando estudávamos sobre as quantidades necessárias de micro nutrientes diárias, questionei minha professora ( sempre fui questionadora... Coitadas!) sobre o fundamento daqueles números, quem determinou que precisamos de 1200 mg de cálcio todos os dias?! A resposta foi: “Não sei!!!” Pois é... Até hoje eu também não sei essa informação, mas sei que isso não faz o menor sentido! Por quê?! Porque nosso corpo é sábio! Porque num dia consumimos mais cálcio, no outro mais ferro, no outro zinco e no final das contas se fizermos um exame bioquímico veremos que na maioria das vezes, se a pessoa não tiver algum transtorno alimentar, está tudo certo!
É fato que precisamos comer bem, ter uma alimentação variada, consumir poucos alimentos industrializados, dar preferência à comida de verdade (aquela que nossos avós reconheceriam como comida), incluir frutas e vegetais no nosso dia a dia ( isso até minha filha de 10 anos tá cansada de saber) mas daí a medicalizar o ato de comer, seguindo regras rígidas do tipo “coma 3 colheres de sopa de arroz e 1/2 concha de feijão” não faz o menor sentido. Ninguém conhece melhor o seu corpo do que você. E por isso ninguém precisa te dizer o quê e quanto você deve comer. Basta que você volte a ouvi-lo, a respeitá-lo...
Mas voltando a pergunta: Por que pensar numa nutrição diferente?
Para voltarmos a olhar para nossos pacientes como seres humanos que são, para considerarmos todos os aspectos que envolvem o ato de comer e não apenas um deles (nutrir), para termos prazer (e não culpa) com uma mesa farta em uma reunião de família e amigos. Enfim, para fazermos as pazes com a comida e com o nosso corpo.
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